quinta-feira, 29 de maio de 2008

A confirmação e a Lua do Barqueiro

Ontem não vim trabalhar. Houve greve dos TUB (tenho que fazer um scan ao panfleto e pô-lo aqui, porque merece) e era pouco sensato ter que andar quase uma hora a pé até ao local de trabalho e mais outra de regresso ao comboio, logo no final do dia.
Mas hoje voltei. E como acordei on fire, resolvi que ia descobrir se realmente o livrinho da senhora loira, era ou não das leituras sagradas. Ora nem mais. Ela vinha, como não podia deixar de ser, sozinha e com ar carrancudo. Deve ter pensado "Lá vem a gaja do cabelo vermelho e unhas pretas, com os seus pensamentos centrados em satanás. Mas eu vou impedi-la de sacrificar gatos em noites de lua cheia". E vai daí, saca do seu livrinho de capa azul. Juro que ainda pensei que fosse uma obra de Victor Hugo, das edições de bolso antigas, comprada a algum alfarrabista. Mas não. Evangelho de S. Lucas. Definitivamente pertence à espécie Jeová. Se bem que me mete confusão que ainda não me tenha tentado converter. Será que afinal é da Igreja Universal do Reino de Deus? Não sei. Permanecerei na dúvida até que esta me seja desfeita.
Anyway, vocês sabiam que a Lua Nova traz chuva? E que se a lua tiver a forma de "um barqueiro, uma coisa com uns biquinhos dos lados" (seja lá que forma for essa) quer dizer que também vai chover a cântaros? Esta sabedoria popular de paragem de autocarro...

A Passageira

sábado, 24 de maio de 2008

As boas maneiras

Confesso que ontem me orgulhei de uma cena que vi. Afinal a tal "juventude perdida" não está tão perdida quanto isso.
Ia o autocarro cheio, mesmo à pinha (como já vem sendo hábito desde que a STCP reestruturou a rede) e suas gentilezas, meninas de bem, sentadas nos lugares de cedência obrigatória. Na boa. Sem preocupações nem stresses (a não ser se havia algum cabelo desalinhado ou se os lábios já não tinham gloss fuchsia suficiente para encandear os restantes passageiros). Uma senhora entrou. Tinha os seus 80 e muitos anos (mais uma vez atiro, provavelmente, ao lado, mas a verdade é a tal que já mencionei) e denotava uma fragilidade imensa (mal conseguia andar). Como também é hábito, ninguém levantou o seu belo cagueiro do sítio para deixar sentar a senhora. E vai que não vai, vem uma rapariga disparada do fundo do autocarro que chega à beira de uma das meninas de bem, agarra-a pelo ombro (até a mim me doeu) e lhe diz " A menina bai bém acómodáda? Olhe que não parece que precise máis do quésta sinhora! Ora lebante-se lá e seija educada pelo menos uma bez na bida!".
Em seguida deve ter-se sentido qual Maomé no levantar das águas, quando toda a gente se arrumou para o canto para a deixar passar de volta para o seu lugar, bem lá no fundo.
Foi bonito de se ver.
(Tal como dizia uma Senhora de um tasco lá da Ribeira, aqui há uns dias "Hajam mulheres com eles no sítio!")


A Passageira

terça-feira, 20 de maio de 2008

Do álcool e das bolachas

Sexta-feira é sempre um daqueles dias. Podemos ter trabalho para encher o fim de semana mas ninguém nos tira a alegria de ser fim de semana. Só isso já me dá uma paz interior que nem vos digo.
Ora na sexta-feira estava um rapaz, num autocarro de Braga, a comer o seu pacote de bolachas de água e sal. Uma senhora, na casa dos 70 (muito provavelemente, porque nunca fui boa com esta coisa das idades, lamento) olhava fixamente para o mencionado rapaz. Ele, como pessoa simpática que, por certo, deveria ser, ofereceu bolachas à dita senhora. Ao que ela responde, num tom ainda elevado:
-Oh meu filho, obrigadinhos mas eu... isso é muito seco para mim. Não é que eu não goste, mas é muito seco e cai mal. eu agora comia era umas batatinhas com bacalhau, assim à espanhola.
(silêncio)
(durante uns 30segundos)
_ Mas olha, sabes onde é que eu gosto dessas bolachinhas, meu filho?
(cara de ponto de interrogação do outro lado)
- Numa boua malga de binho!!!
E fica aqui um Amen às diversas formas de celebrar a esperada sexta-feira.


A Passageira


P.S.: Por falar em Amen, hoje lá vinha a Testemunha de Jeová no comboio. Penteado novo. Má cara de sempre. Curiosamente parece que não avançou muitas páginas no dito livrinho. Pareceu-me continuar tudo na mesma.
Será que eles de facto lêem aquilo até ao fim?

sexta-feira, 16 de maio de 2008

A Senhora do lugar da frente

Já lá vão quinze dias de trabalho intenso que me impediram de actualizar este blog. Gostava de poder dizer que tenho vergonha, mas não tenho.
Anyway, hoje, no comboio, sentei-me à frente de uma Senhora. Pareceu-me ser o ser mais antipático do mundo. Confirmou-se. Não se moveu um centímetro para me deixar pousar as tralhas, colocou um jornal no banco ao lado do dela para evitar que outras pessoas se sentassem (pela lógica da batata - portuguesa- se houver um lugar vago sem um jornal, a pessoa vai preferir sentar-se lá do que num com jornal, pelo simples motivo de que terá que movimentar menos músculos), e olhava com total ar de repulsão tanto para mim como para a simpáica rapariga que se sentou ao meu lado.
10minutitos depois, saca de um pequeno livro da sua mala. Mesmo pequenino. Azul. Fiquei intrigada. Pensei que pudesse estar a fazer um esconjuro á minha pessoa. Ou a rezar ao demo.
Percebi depois que ela era Testemunha de Jeová.
E aí, já tudo fez sentido.


A Passageira

quinta-feira, 8 de maio de 2008

As noites da Queima

Como é do conhecimento geral, esta é a época em que os estudantes celebram o que há (e o que não há) para celebrar.
Esta semana é a Queima do Porto. Na próxima será a de Braga.
Se ontem cheguei atrasada ao trabalho meia hora porque um dos jovens que vinha da Queima teve um ataque epilético em pleno comboio, hoje tive que vir de pé toda a santa viagem porque os ditos jovens se deitam ao comprido a ocupar todos os bancos. Confesso que nestes dias gosto de me encharcar em perfume de côco. É extremamente enjoativo e faz com que os que beberam demais se revelem. É a melhor maneira de fazer com que se ajeitem noutro lado.
Entenda-se que eu não tenho anda contra a Queima. Aliás, sou uma finalista e, no decorrer do meu curso, sempre fui alinhando nestas coisas. O problema são mesmo os excessos. Sobretudo o do álcool. Nem sei como a STCP cedeu autocarros. Ainda por cima gratuitos. Recordo que há 2 anos vi alguns serem completamente destruídos, no interior.
Espertos foram os gestores do metro. Nada de borlas. E só por causa das coisas levam também com uma greve. Terão, por certo, muito menos prejuízos do que a STCP.
Anyway, não levem carros para a Queima. Usem os transportes públicos. É o mais sensato.
Mas pelo menos preservem-nos.

Porque, senão, no próximo ano, e muito provavelmente, terão de ir a pé.


A Passageira

quarta-feira, 30 de abril de 2008

Hoje comecei a manhã com um suicídio

Não consigo compreender isto.
Um suicídio é uma daquelas coisas que dão pano para mangas em discussão de prós e contras. Há quem diga que o para-suicídio é uma forma de chamar a atenção, mas eu acho que os verdadeiros exibicionistas são os suicídas que concretizam o dito cujo, numa linha de comboio. Ora porquê? Porque escolhem sempre o raio da hora de ponta. Deve ser só mesmo para conseguirem por toda a gente a pensar em como são coitadinhos ou como a vida é difícil. Ou um simples "olhem para mim agora, definitivamente". Sim, sou uma insensível. Se calhar nem tanto. Se calhar só acho que é muito mais fácil desistir do que batalhar diariamente, ultrapassar obstáculos e resolver problemas em cima de problemas.
Bem, se se quiserem suicidar, que o façam. Eu não impeço. Agora, não façam isso na linha do comboio. Primeiro porque faz muita porcaria. Segundo, porque o médico legista pode ter que ficar á espera de comboio que se vai atrasar por causa do dito acto e, como tal, maior vai ser a demora para remover o corpo. Mas sobretudo, NÃO O FAÇAM EM HORA DE PONTA!! Porque se assim for, vão:
-aumentar a taxa de desemprego, pelo número de atrasos dos trabalhadores que iam de comboio;
-aumentar a má disposição das pessoas por causa do tempo de espera;
-transformar pessoas comuns e trabalhadoras, vulgares cidadãos cumpridores, em potenciais homicidas, de cada vez que ouçam "um dia atiro-me para a linha do comboio".


Como tal, penso que seria sensato que o Governo criasse uma lei que proibísse os suicídios em horas de ponta, nas linhas de comboio de todo este Portugal.

(Já criaram leis com menos utilidade, não já?)


Com uma hora de atraso no trabalho,


A Passageira

terça-feira, 29 de abril de 2008

"Olhe que a história do curso do engenheiro é tudo mentira! Desculpas para nos tirarem o dinheiro com gente que não sabe nada. É o que é!"

Confesso que quanto mais convivo com as pessoas que são verdadeiramente a força de trabalho da nossa (pseudo)economia, mais certa estou de que deveriam dominar a AR e criar, definitivamente, estratégias para a nossa evolução económica e social.
Na sexta feira desta última semana, resolvi sair mais cedo para apanhar o comboio que demora menos tempo no trajecto Braga-Porto. Estava um calor de fazer assar passarinhos nas árvores (ora aqui está uma tirada ao estilo "livro da Língua Portuguesa-7º ano") e toda a gente se abrigou no comboio (e viva o ar condicionado!), sendo que, quase meia hora antes deste arrancar, já estava totalmente lotado. Sentei-me em frente a duas senhoras já com uma certa idade, que me pediram, com gentileza, que as informasse (através do painel interno de informação do comboio) quando estivéssemos a chegar a Famalicão, porque aquele comboio "ánda muito depréssa e a gente num bê quando passa das estações". Eu disponibilizei-me para o fazer e as senhoras começaram um inquérito á minha pessoa. Lá lhes expliquei que estava a estagiar em Braga, na área da Gestão. A mais "faladeira" disse-me "olhe menina, gente assim com um cursinho e que saiba mesmo trabalhar, é que a gente precisa. Não é como áquele que num é inginheiro ninhum e que nos querem é deitar areia pá cara. É verdade menina! Veija lá que ele diz quié casado mas aquilo já nem é nada. Só a tem lá mas já anda com o outro à frente de toda a gente."
Ora bem, depois lá comentou que o sobrinho monta máquinas nas fábricas da indústria têxtil e que elas as duas trabalharam na área durante muito tempo. Em traços largos "olhe menina, agora fecham estas fábricas todas para ir para a Roménia, lá com os estrangeiros, porque lá uma camisa custa 20euros e eles num tenhem nem 20euros para comer! Mas pagam-lhes poucos e assim rende mais levar tudo para lá. E nós é que ficamos pobres com isto! Não haviam de deixar fazer estas coisas. Desgraçam-nos a todos!". Seguiu-se uma explicação singela de todos os procedimentos minuciosos do fabrico dos tecidos assim como a história de como o filho do antigo patrão que enganou toda a gente, foi para Marrocos e depois perdeu lá todo o seu dinheiro (engaram-no da mesma forma, contam). Curiosamente elas tinham soluções práticas e objectivas para muitos dos problemas. E aposto que a maioria dos nossos gestores não chega a metade desse caminho durante toda uma carreira.
É de valorizar. E muito, vos digo.

A Passageira


P.S.: Dois ingleses vinham também nesse comboio e rejubilaram quando viram vacas a pastar. Se calhar deveriam era ter apanhado o comboio dos pintaínhos.

quinta-feira, 24 de abril de 2008

A caixinha

Quando tiverem dúvidas sobre o facto de estarmos ou não numa mudança de estação (falamos do clima, propriamente dito), podem esclarecê-las em qualquer transporte público. Se cheirar a naftalina, ou estamos a entrar no Inverno ou então no Verão. Tão certo quanto a Terra girar à volta do Sol.
As viagens ao final da tarde, nos comboios de Braga para o Porto, costumam ser bastante aprazíveis. Silêncio, pouca gente e a possibilidade de podermos esticar as pernas, visto não termos que partilhar paridade de lugares com ninguém. Suspeito ter qualquer componente atractiva muito forte pois, com o comboio quase que vazio, chegamos ali a Famalicão e duas respeitáveis senhoras entram e sentam-se, uma ao meu lado e outra á minha frente. Ora bem, ontem começou a vir o calor. Pela lógica da batata, naftalina ao poder. Mas pronto. O cheiro já vinha meio suavizado e aguenta-se razoavelmente bem. Traziam ainda 4 ou 5 sacos que deviam vir do sapateiro, pois cheiravam a verniz. Até aqui, bem... já começa a ser...vá, chatinho. Mas uma pessoa ainda faz o esforço. O cúmulo veio de uma caixa. E perguntam-se vocês "Uma caixa? Mas que raio é que uma caixa pode ter assim de tão incomodativo?"
E eu respondo-vos:

PINTAÍNHOS!!!

Sim, os filhos das galinhas.


Depois disto, o Senhor Murphy devia acrescentar a lei de "não interessa que o comboio vá vazio. Se alguém entrar com uma caixa cheia de pintaínhos nauseabundos, irá sentar-se exactamente ao seu lado".



A Passageira

quarta-feira, 23 de abril de 2008

"Quantas patas tem o gato?1, 2, 3, 4!!!"

De facto,a miudagem de hoje, num sentido generalista, não tem educação.
Não, não tem nada que ver com a mediatização do caso do Carolina. Nada disso.
Visualizem a fantástica jornada que é a viagem de comboio Porto-Braga às 7:40 da matina. Pois bem. Como se já não fosse um suplício mais do que suficiente fazer uma viagem tão longa logo de madrugada, juntem dois putos de 4 ou 5 anos a cantarem:

"Pim Pam Pum
Cada bola mata um!
P'ra galinha e p'ro pirú
Quem se livra és mesmo tu,
Da cabeça do pirú!
Quantas patas tem o gato?
Um, dois, três, quatro!!!"

(Nota: pirú é o aproximado ao perú, penso eu)

Sim. É mau. É chato. Mas mais chato é se o fizerem durante a totalidade da viagem.
Dá vontade de cometer infanticídio. Duplo. E ainda bater no executivo tonhó que vai a falar altíssimo ao telemóvel, no banco ao lado (não nos interessa saber que fechou negócio com o Zé Tó da empresa de tijolos, meu senhor. Aliás, a falar tão alto, penso que o Zé Tó o conseguia ouvir sem ter que se socorrer do telemóvel).
Não me admira que, com isto, a juventude vá ficar surda com o uso abusivo dos leitores de mp3 no volume máximo.


Outro aspecto curioso são os TUB (Transportes Urbanos de Braga). Nos primeiros tempos que frequentei Braga, pensei, muito sinceramente, que os TUB eram uma empresa fictícia. De facto os TUB existiam. Mas eu nunca os via. Agora já entendo. Imaginemos que temos 5 números diferentes (linhas, entenda-se) a fazerem paragem no local X. Ora bem, esses 5 números chegam sensivelmente ao mesmo tempo e só passam de meia em meia hora. Se não chegarem na altura certa à paragem, vão a pé. Vendo por esta perspectiva, os TUB devem pertencer a um qualquer lobbie relacionado com a luta contra a obesidade e o colesterol. Não sei. E penso que ficarei sempre na dúvida.
Outro aspecto das paragens, é que os passageiros não fazem fila. Regra geral, é tudo ao molho e fé em... em quê também não sei, porque até Deus era/é minimamente ordenado.
Anyway, existem sempre umas senhoras com mais idade que lá se metem á frente de toda a gente, mesmo que essa gente já esteja há meia hora à espera, debaixo de chuva torrencial. Mas o que me danou foi uma dita senhora, de muletas, que, num desses dias de chuva torrencial, entrou á frente de toda a gente que já lá estava. Cambaleava lentamente e a muito custo. Mas só até perto do motorista. Mal viu um assento vago, agarrou nas duas muletas e foi para lá, em passo acelerado.
Dava vontade de a trancar num cubículo com os dois catraios acima mencionados até ela ensandecer.

Enfim.

Deve ser um mal originado nas malditas quenturas infernais que se geram nos transportes nestes dias de chuva.

A Passageira.


P.S.: Ao senhor que deixou um sapato perdido na estação de metro dos Aliados, no Porto, na 3a feira em que houve greve, apenas o quero informar de que, às 20:30, o sapato ainda lá estava. Tente a secção dos perdidos e achados.
E deixe lá uma mensagem a explicar como é que um homem perde um sapato de atacadores a entrar no metro ^_^

quarta-feira, 16 de abril de 2008

A Partida

Depois de tanta insistência por parte de diversas pessoas que aturaram vezes sem conta a minha capacidade de falar rapidamente e sem respirar durante vários minutos, sobre os fantásticos episódios diários que vivo nesses ícones da vida moderna que (não) são os transportes públicos, cedi à pressão no universo dos blogs e aqui estou.
Comecemos então hoje esta viagem (e olhem que não sei quando e onde acaba...).


A Passageira