Confesso que quanto mais convivo com as pessoas que são verdadeiramente a força de trabalho da nossa (pseudo)economia, mais certa estou de que deveriam dominar a AR e criar, definitivamente, estratégias para a nossa evolução económica e social.
Na sexta feira desta última semana, resolvi sair mais cedo para apanhar o comboio que demora menos tempo no trajecto Braga-Porto. Estava um calor de fazer assar passarinhos nas árvores (ora aqui está uma tirada ao estilo "livro da Língua Portuguesa-7º ano") e toda a gente se abrigou no comboio (e viva o ar condicionado!), sendo que, quase meia hora antes deste arrancar, já estava totalmente lotado. Sentei-me em frente a duas senhoras já com uma certa idade, que me pediram, com gentileza, que as informasse (através do painel interno de informação do comboio) quando estivéssemos a chegar a Famalicão, porque aquele comboio "ánda muito depréssa e a gente num bê quando passa das estações". Eu disponibilizei-me para o fazer e as senhoras começaram um inquérito á minha pessoa. Lá lhes expliquei que estava a estagiar em Braga, na área da Gestão. A mais "faladeira" disse-me "olhe menina, gente assim com um cursinho e que saiba mesmo trabalhar, é que a gente precisa. Não é como áquele que num é inginheiro ninhum e que nos querem é deitar areia pá cara. É verdade menina! Veija lá que ele diz quié casado mas aquilo já nem é nada. Só a tem lá mas já anda com o outro à frente de toda a gente."
Ora bem, depois lá comentou que o sobrinho monta máquinas nas fábricas da indústria têxtil e que elas as duas trabalharam na área durante muito tempo. Em traços largos "olhe menina, agora fecham estas fábricas todas para ir para a Roménia, lá com os estrangeiros, porque lá uma camisa custa 20euros e eles num tenhem nem 20euros para comer! Mas pagam-lhes poucos e assim rende mais levar tudo para lá. E nós é que ficamos pobres com isto! Não haviam de deixar fazer estas coisas. Desgraçam-nos a todos!". Seguiu-se uma explicação singela de todos os procedimentos minuciosos do fabrico dos tecidos assim como a história de como o filho do antigo patrão que enganou toda a gente, foi para Marrocos e depois perdeu lá todo o seu dinheiro (engaram-no da mesma forma, contam). Curiosamente elas tinham soluções práticas e objectivas para muitos dos problemas. E aposto que a maioria dos nossos gestores não chega a metade desse caminho durante toda uma carreira.
É de valorizar. E muito, vos digo.
A Passageira
P.S.: Dois ingleses vinham também nesse comboio e rejubilaram quando viram vacas a pastar. Se calhar deveriam era ter apanhado o comboio dos pintaínhos.
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