Ontem não vim trabalhar. Houve greve dos TUB (tenho que fazer um scan ao panfleto e pô-lo aqui, porque merece) e era pouco sensato ter que andar quase uma hora a pé até ao local de trabalho e mais outra de regresso ao comboio, logo no final do dia.
Mas hoje voltei. E como acordei on fire, resolvi que ia descobrir se realmente o livrinho da senhora loira, era ou não das leituras sagradas. Ora nem mais. Ela vinha, como não podia deixar de ser, sozinha e com ar carrancudo. Deve ter pensado "Lá vem a gaja do cabelo vermelho e unhas pretas, com os seus pensamentos centrados em satanás. Mas eu vou impedi-la de sacrificar gatos em noites de lua cheia". E vai daí, saca do seu livrinho de capa azul. Juro que ainda pensei que fosse uma obra de Victor Hugo, das edições de bolso antigas, comprada a algum alfarrabista. Mas não. Evangelho de S. Lucas. Definitivamente pertence à espécie Jeová. Se bem que me mete confusão que ainda não me tenha tentado converter. Será que afinal é da Igreja Universal do Reino de Deus? Não sei. Permanecerei na dúvida até que esta me seja desfeita.
Anyway, vocês sabiam que a Lua Nova traz chuva? E que se a lua tiver a forma de "um barqueiro, uma coisa com uns biquinhos dos lados" (seja lá que forma for essa) quer dizer que também vai chover a cântaros? Esta sabedoria popular de paragem de autocarro...
A Passageira
quinta-feira, 29 de maio de 2008
sábado, 24 de maio de 2008
As boas maneiras
Confesso que ontem me orgulhei de uma cena que vi. Afinal a tal "juventude perdida" não está tão perdida quanto isso.
Ia o autocarro cheio, mesmo à pinha (como já vem sendo hábito desde que a STCP reestruturou a rede) e suas gentilezas, meninas de bem, sentadas nos lugares de cedência obrigatória. Na boa. Sem preocupações nem stresses (a não ser se havia algum cabelo desalinhado ou se os lábios já não tinham gloss fuchsia suficiente para encandear os restantes passageiros). Uma senhora entrou. Tinha os seus 80 e muitos anos (mais uma vez atiro, provavelmente, ao lado, mas a verdade é a tal que já mencionei) e denotava uma fragilidade imensa (mal conseguia andar). Como também é hábito, ninguém levantou o seu belo cagueiro do sítio para deixar sentar a senhora. E vai que não vai, vem uma rapariga disparada do fundo do autocarro que chega à beira de uma das meninas de bem, agarra-a pelo ombro (até a mim me doeu) e lhe diz " A menina bai bém acómodáda? Olhe que não parece que precise máis do quésta sinhora! Ora lebante-se lá e seija educada pelo menos uma bez na bida!".
Em seguida deve ter-se sentido qual Maomé no levantar das águas, quando toda a gente se arrumou para o canto para a deixar passar de volta para o seu lugar, bem lá no fundo.
Foi bonito de se ver.
(Tal como dizia uma Senhora de um tasco lá da Ribeira, aqui há uns dias "Hajam mulheres com eles no sítio!")
A Passageira
Ia o autocarro cheio, mesmo à pinha (como já vem sendo hábito desde que a STCP reestruturou a rede) e suas gentilezas, meninas de bem, sentadas nos lugares de cedência obrigatória. Na boa. Sem preocupações nem stresses (a não ser se havia algum cabelo desalinhado ou se os lábios já não tinham gloss fuchsia suficiente para encandear os restantes passageiros). Uma senhora entrou. Tinha os seus 80 e muitos anos (mais uma vez atiro, provavelmente, ao lado, mas a verdade é a tal que já mencionei) e denotava uma fragilidade imensa (mal conseguia andar). Como também é hábito, ninguém levantou o seu belo cagueiro do sítio para deixar sentar a senhora. E vai que não vai, vem uma rapariga disparada do fundo do autocarro que chega à beira de uma das meninas de bem, agarra-a pelo ombro (até a mim me doeu) e lhe diz " A menina bai bém acómodáda? Olhe que não parece que precise máis do quésta sinhora! Ora lebante-se lá e seija educada pelo menos uma bez na bida!".
Em seguida deve ter-se sentido qual Maomé no levantar das águas, quando toda a gente se arrumou para o canto para a deixar passar de volta para o seu lugar, bem lá no fundo.
Foi bonito de se ver.
(Tal como dizia uma Senhora de um tasco lá da Ribeira, aqui há uns dias "Hajam mulheres com eles no sítio!")
A Passageira
terça-feira, 20 de maio de 2008
Do álcool e das bolachas
Sexta-feira é sempre um daqueles dias. Podemos ter trabalho para encher o fim de semana mas ninguém nos tira a alegria de ser fim de semana. Só isso já me dá uma paz interior que nem vos digo.
Ora na sexta-feira estava um rapaz, num autocarro de Braga, a comer o seu pacote de bolachas de água e sal. Uma senhora, na casa dos 70 (muito provavelemente, porque nunca fui boa com esta coisa das idades, lamento) olhava fixamente para o mencionado rapaz. Ele, como pessoa simpática que, por certo, deveria ser, ofereceu bolachas à dita senhora. Ao que ela responde, num tom ainda elevado:
-Oh meu filho, obrigadinhos mas eu... isso é muito seco para mim. Não é que eu não goste, mas é muito seco e cai mal. eu agora comia era umas batatinhas com bacalhau, assim à espanhola.
(silêncio)
(durante uns 30segundos)
_ Mas olha, sabes onde é que eu gosto dessas bolachinhas, meu filho?
(cara de ponto de interrogação do outro lado)
- Numa boua malga de binho!!!
E fica aqui um Amen às diversas formas de celebrar a esperada sexta-feira.
A Passageira
P.S.: Por falar em Amen, hoje lá vinha a Testemunha de Jeová no comboio. Penteado novo. Má cara de sempre. Curiosamente parece que não avançou muitas páginas no dito livrinho. Pareceu-me continuar tudo na mesma.
Será que eles de facto lêem aquilo até ao fim?
Ora na sexta-feira estava um rapaz, num autocarro de Braga, a comer o seu pacote de bolachas de água e sal. Uma senhora, na casa dos 70 (muito provavelemente, porque nunca fui boa com esta coisa das idades, lamento) olhava fixamente para o mencionado rapaz. Ele, como pessoa simpática que, por certo, deveria ser, ofereceu bolachas à dita senhora. Ao que ela responde, num tom ainda elevado:
-Oh meu filho, obrigadinhos mas eu... isso é muito seco para mim. Não é que eu não goste, mas é muito seco e cai mal. eu agora comia era umas batatinhas com bacalhau, assim à espanhola.
(silêncio)
(durante uns 30segundos)
_ Mas olha, sabes onde é que eu gosto dessas bolachinhas, meu filho?
(cara de ponto de interrogação do outro lado)
- Numa boua malga de binho!!!
E fica aqui um Amen às diversas formas de celebrar a esperada sexta-feira.
A Passageira
P.S.: Por falar em Amen, hoje lá vinha a Testemunha de Jeová no comboio. Penteado novo. Má cara de sempre. Curiosamente parece que não avançou muitas páginas no dito livrinho. Pareceu-me continuar tudo na mesma.
Será que eles de facto lêem aquilo até ao fim?
sexta-feira, 16 de maio de 2008
A Senhora do lugar da frente
Já lá vão quinze dias de trabalho intenso que me impediram de actualizar este blog. Gostava de poder dizer que tenho vergonha, mas não tenho.
Anyway, hoje, no comboio, sentei-me à frente de uma Senhora. Pareceu-me ser o ser mais antipático do mundo. Confirmou-se. Não se moveu um centímetro para me deixar pousar as tralhas, colocou um jornal no banco ao lado do dela para evitar que outras pessoas se sentassem (pela lógica da batata - portuguesa- se houver um lugar vago sem um jornal, a pessoa vai preferir sentar-se lá do que num com jornal, pelo simples motivo de que terá que movimentar menos músculos), e olhava com total ar de repulsão tanto para mim como para a simpáica rapariga que se sentou ao meu lado.
10minutitos depois, saca de um pequeno livro da sua mala. Mesmo pequenino. Azul. Fiquei intrigada. Pensei que pudesse estar a fazer um esconjuro á minha pessoa. Ou a rezar ao demo.
Percebi depois que ela era Testemunha de Jeová.
E aí, já tudo fez sentido.
A Passageira
Anyway, hoje, no comboio, sentei-me à frente de uma Senhora. Pareceu-me ser o ser mais antipático do mundo. Confirmou-se. Não se moveu um centímetro para me deixar pousar as tralhas, colocou um jornal no banco ao lado do dela para evitar que outras pessoas se sentassem (pela lógica da batata - portuguesa- se houver um lugar vago sem um jornal, a pessoa vai preferir sentar-se lá do que num com jornal, pelo simples motivo de que terá que movimentar menos músculos), e olhava com total ar de repulsão tanto para mim como para a simpáica rapariga que se sentou ao meu lado.
10minutitos depois, saca de um pequeno livro da sua mala. Mesmo pequenino. Azul. Fiquei intrigada. Pensei que pudesse estar a fazer um esconjuro á minha pessoa. Ou a rezar ao demo.
Percebi depois que ela era Testemunha de Jeová.
E aí, já tudo fez sentido.
A Passageira
quinta-feira, 8 de maio de 2008
As noites da Queima
Como é do conhecimento geral, esta é a época em que os estudantes celebram o que há (e o que não há) para celebrar.
Esta semana é a Queima do Porto. Na próxima será a de Braga.
Se ontem cheguei atrasada ao trabalho meia hora porque um dos jovens que vinha da Queima teve um ataque epilético em pleno comboio, hoje tive que vir de pé toda a santa viagem porque os ditos jovens se deitam ao comprido a ocupar todos os bancos. Confesso que nestes dias gosto de me encharcar em perfume de côco. É extremamente enjoativo e faz com que os que beberam demais se revelem. É a melhor maneira de fazer com que se ajeitem noutro lado.
Entenda-se que eu não tenho anda contra a Queima. Aliás, sou uma finalista e, no decorrer do meu curso, sempre fui alinhando nestas coisas. O problema são mesmo os excessos. Sobretudo o do álcool. Nem sei como a STCP cedeu autocarros. Ainda por cima gratuitos. Recordo que há 2 anos vi alguns serem completamente destruídos, no interior.
Espertos foram os gestores do metro. Nada de borlas. E só por causa das coisas levam também com uma greve. Terão, por certo, muito menos prejuízos do que a STCP.
Anyway, não levem carros para a Queima. Usem os transportes públicos. É o mais sensato.
Mas pelo menos preservem-nos.
Porque, senão, no próximo ano, e muito provavelmente, terão de ir a pé.
A Passageira
Esta semana é a Queima do Porto. Na próxima será a de Braga.
Se ontem cheguei atrasada ao trabalho meia hora porque um dos jovens que vinha da Queima teve um ataque epilético em pleno comboio, hoje tive que vir de pé toda a santa viagem porque os ditos jovens se deitam ao comprido a ocupar todos os bancos. Confesso que nestes dias gosto de me encharcar em perfume de côco. É extremamente enjoativo e faz com que os que beberam demais se revelem. É a melhor maneira de fazer com que se ajeitem noutro lado.
Entenda-se que eu não tenho anda contra a Queima. Aliás, sou uma finalista e, no decorrer do meu curso, sempre fui alinhando nestas coisas. O problema são mesmo os excessos. Sobretudo o do álcool. Nem sei como a STCP cedeu autocarros. Ainda por cima gratuitos. Recordo que há 2 anos vi alguns serem completamente destruídos, no interior.
Espertos foram os gestores do metro. Nada de borlas. E só por causa das coisas levam também com uma greve. Terão, por certo, muito menos prejuízos do que a STCP.
Anyway, não levem carros para a Queima. Usem os transportes públicos. É o mais sensato.
Mas pelo menos preservem-nos.
Porque, senão, no próximo ano, e muito provavelmente, terão de ir a pé.
A Passageira
quarta-feira, 30 de abril de 2008
Hoje comecei a manhã com um suicídio
Não consigo compreender isto.
Um suicídio é uma daquelas coisas que dão pano para mangas em discussão de prós e contras. Há quem diga que o para-suicídio é uma forma de chamar a atenção, mas eu acho que os verdadeiros exibicionistas são os suicídas que concretizam o dito cujo, numa linha de comboio. Ora porquê? Porque escolhem sempre o raio da hora de ponta. Deve ser só mesmo para conseguirem por toda a gente a pensar em como são coitadinhos ou como a vida é difícil. Ou um simples "olhem para mim agora, definitivamente". Sim, sou uma insensível. Se calhar nem tanto. Se calhar só acho que é muito mais fácil desistir do que batalhar diariamente, ultrapassar obstáculos e resolver problemas em cima de problemas.
Bem, se se quiserem suicidar, que o façam. Eu não impeço. Agora, não façam isso na linha do comboio. Primeiro porque faz muita porcaria. Segundo, porque o médico legista pode ter que ficar á espera de comboio que se vai atrasar por causa do dito acto e, como tal, maior vai ser a demora para remover o corpo. Mas sobretudo, NÃO O FAÇAM EM HORA DE PONTA!! Porque se assim for, vão:
-aumentar a taxa de desemprego, pelo número de atrasos dos trabalhadores que iam de comboio;
-aumentar a má disposição das pessoas por causa do tempo de espera;
-transformar pessoas comuns e trabalhadoras, vulgares cidadãos cumpridores, em potenciais homicidas, de cada vez que ouçam "um dia atiro-me para a linha do comboio".
Como tal, penso que seria sensato que o Governo criasse uma lei que proibísse os suicídios em horas de ponta, nas linhas de comboio de todo este Portugal.
(Já criaram leis com menos utilidade, não já?)
Com uma hora de atraso no trabalho,
A Passageira
Um suicídio é uma daquelas coisas que dão pano para mangas em discussão de prós e contras. Há quem diga que o para-suicídio é uma forma de chamar a atenção, mas eu acho que os verdadeiros exibicionistas são os suicídas que concretizam o dito cujo, numa linha de comboio. Ora porquê? Porque escolhem sempre o raio da hora de ponta. Deve ser só mesmo para conseguirem por toda a gente a pensar em como são coitadinhos ou como a vida é difícil. Ou um simples "olhem para mim agora, definitivamente". Sim, sou uma insensível. Se calhar nem tanto. Se calhar só acho que é muito mais fácil desistir do que batalhar diariamente, ultrapassar obstáculos e resolver problemas em cima de problemas.
Bem, se se quiserem suicidar, que o façam. Eu não impeço. Agora, não façam isso na linha do comboio. Primeiro porque faz muita porcaria. Segundo, porque o médico legista pode ter que ficar á espera de comboio que se vai atrasar por causa do dito acto e, como tal, maior vai ser a demora para remover o corpo. Mas sobretudo, NÃO O FAÇAM EM HORA DE PONTA!! Porque se assim for, vão:
-aumentar a taxa de desemprego, pelo número de atrasos dos trabalhadores que iam de comboio;
-aumentar a má disposição das pessoas por causa do tempo de espera;
-transformar pessoas comuns e trabalhadoras, vulgares cidadãos cumpridores, em potenciais homicidas, de cada vez que ouçam "um dia atiro-me para a linha do comboio".
Como tal, penso que seria sensato que o Governo criasse uma lei que proibísse os suicídios em horas de ponta, nas linhas de comboio de todo este Portugal.
(Já criaram leis com menos utilidade, não já?)
Com uma hora de atraso no trabalho,
A Passageira
terça-feira, 29 de abril de 2008
"Olhe que a história do curso do engenheiro é tudo mentira! Desculpas para nos tirarem o dinheiro com gente que não sabe nada. É o que é!"
Confesso que quanto mais convivo com as pessoas que são verdadeiramente a força de trabalho da nossa (pseudo)economia, mais certa estou de que deveriam dominar a AR e criar, definitivamente, estratégias para a nossa evolução económica e social.
Na sexta feira desta última semana, resolvi sair mais cedo para apanhar o comboio que demora menos tempo no trajecto Braga-Porto. Estava um calor de fazer assar passarinhos nas árvores (ora aqui está uma tirada ao estilo "livro da Língua Portuguesa-7º ano") e toda a gente se abrigou no comboio (e viva o ar condicionado!), sendo que, quase meia hora antes deste arrancar, já estava totalmente lotado. Sentei-me em frente a duas senhoras já com uma certa idade, que me pediram, com gentileza, que as informasse (através do painel interno de informação do comboio) quando estivéssemos a chegar a Famalicão, porque aquele comboio "ánda muito depréssa e a gente num bê quando passa das estações". Eu disponibilizei-me para o fazer e as senhoras começaram um inquérito á minha pessoa. Lá lhes expliquei que estava a estagiar em Braga, na área da Gestão. A mais "faladeira" disse-me "olhe menina, gente assim com um cursinho e que saiba mesmo trabalhar, é que a gente precisa. Não é como áquele que num é inginheiro ninhum e que nos querem é deitar areia pá cara. É verdade menina! Veija lá que ele diz quié casado mas aquilo já nem é nada. Só a tem lá mas já anda com o outro à frente de toda a gente."
Ora bem, depois lá comentou que o sobrinho monta máquinas nas fábricas da indústria têxtil e que elas as duas trabalharam na área durante muito tempo. Em traços largos "olhe menina, agora fecham estas fábricas todas para ir para a Roménia, lá com os estrangeiros, porque lá uma camisa custa 20euros e eles num tenhem nem 20euros para comer! Mas pagam-lhes poucos e assim rende mais levar tudo para lá. E nós é que ficamos pobres com isto! Não haviam de deixar fazer estas coisas. Desgraçam-nos a todos!". Seguiu-se uma explicação singela de todos os procedimentos minuciosos do fabrico dos tecidos assim como a história de como o filho do antigo patrão que enganou toda a gente, foi para Marrocos e depois perdeu lá todo o seu dinheiro (engaram-no da mesma forma, contam). Curiosamente elas tinham soluções práticas e objectivas para muitos dos problemas. E aposto que a maioria dos nossos gestores não chega a metade desse caminho durante toda uma carreira.
É de valorizar. E muito, vos digo.
A Passageira
P.S.: Dois ingleses vinham também nesse comboio e rejubilaram quando viram vacas a pastar. Se calhar deveriam era ter apanhado o comboio dos pintaínhos.
Na sexta feira desta última semana, resolvi sair mais cedo para apanhar o comboio que demora menos tempo no trajecto Braga-Porto. Estava um calor de fazer assar passarinhos nas árvores (ora aqui está uma tirada ao estilo "livro da Língua Portuguesa-7º ano") e toda a gente se abrigou no comboio (e viva o ar condicionado!), sendo que, quase meia hora antes deste arrancar, já estava totalmente lotado. Sentei-me em frente a duas senhoras já com uma certa idade, que me pediram, com gentileza, que as informasse (através do painel interno de informação do comboio) quando estivéssemos a chegar a Famalicão, porque aquele comboio "ánda muito depréssa e a gente num bê quando passa das estações". Eu disponibilizei-me para o fazer e as senhoras começaram um inquérito á minha pessoa. Lá lhes expliquei que estava a estagiar em Braga, na área da Gestão. A mais "faladeira" disse-me "olhe menina, gente assim com um cursinho e que saiba mesmo trabalhar, é que a gente precisa. Não é como áquele que num é inginheiro ninhum e que nos querem é deitar areia pá cara. É verdade menina! Veija lá que ele diz quié casado mas aquilo já nem é nada. Só a tem lá mas já anda com o outro à frente de toda a gente."
Ora bem, depois lá comentou que o sobrinho monta máquinas nas fábricas da indústria têxtil e que elas as duas trabalharam na área durante muito tempo. Em traços largos "olhe menina, agora fecham estas fábricas todas para ir para a Roménia, lá com os estrangeiros, porque lá uma camisa custa 20euros e eles num tenhem nem 20euros para comer! Mas pagam-lhes poucos e assim rende mais levar tudo para lá. E nós é que ficamos pobres com isto! Não haviam de deixar fazer estas coisas. Desgraçam-nos a todos!". Seguiu-se uma explicação singela de todos os procedimentos minuciosos do fabrico dos tecidos assim como a história de como o filho do antigo patrão que enganou toda a gente, foi para Marrocos e depois perdeu lá todo o seu dinheiro (engaram-no da mesma forma, contam). Curiosamente elas tinham soluções práticas e objectivas para muitos dos problemas. E aposto que a maioria dos nossos gestores não chega a metade desse caminho durante toda uma carreira.
É de valorizar. E muito, vos digo.
A Passageira
P.S.: Dois ingleses vinham também nesse comboio e rejubilaram quando viram vacas a pastar. Se calhar deveriam era ter apanhado o comboio dos pintaínhos.
Subscrever:
Mensagens (Atom)