quarta-feira, 30 de abril de 2008

Hoje comecei a manhã com um suicídio

Não consigo compreender isto.
Um suicídio é uma daquelas coisas que dão pano para mangas em discussão de prós e contras. Há quem diga que o para-suicídio é uma forma de chamar a atenção, mas eu acho que os verdadeiros exibicionistas são os suicídas que concretizam o dito cujo, numa linha de comboio. Ora porquê? Porque escolhem sempre o raio da hora de ponta. Deve ser só mesmo para conseguirem por toda a gente a pensar em como são coitadinhos ou como a vida é difícil. Ou um simples "olhem para mim agora, definitivamente". Sim, sou uma insensível. Se calhar nem tanto. Se calhar só acho que é muito mais fácil desistir do que batalhar diariamente, ultrapassar obstáculos e resolver problemas em cima de problemas.
Bem, se se quiserem suicidar, que o façam. Eu não impeço. Agora, não façam isso na linha do comboio. Primeiro porque faz muita porcaria. Segundo, porque o médico legista pode ter que ficar á espera de comboio que se vai atrasar por causa do dito acto e, como tal, maior vai ser a demora para remover o corpo. Mas sobretudo, NÃO O FAÇAM EM HORA DE PONTA!! Porque se assim for, vão:
-aumentar a taxa de desemprego, pelo número de atrasos dos trabalhadores que iam de comboio;
-aumentar a má disposição das pessoas por causa do tempo de espera;
-transformar pessoas comuns e trabalhadoras, vulgares cidadãos cumpridores, em potenciais homicidas, de cada vez que ouçam "um dia atiro-me para a linha do comboio".


Como tal, penso que seria sensato que o Governo criasse uma lei que proibísse os suicídios em horas de ponta, nas linhas de comboio de todo este Portugal.

(Já criaram leis com menos utilidade, não já?)


Com uma hora de atraso no trabalho,


A Passageira

terça-feira, 29 de abril de 2008

"Olhe que a história do curso do engenheiro é tudo mentira! Desculpas para nos tirarem o dinheiro com gente que não sabe nada. É o que é!"

Confesso que quanto mais convivo com as pessoas que são verdadeiramente a força de trabalho da nossa (pseudo)economia, mais certa estou de que deveriam dominar a AR e criar, definitivamente, estratégias para a nossa evolução económica e social.
Na sexta feira desta última semana, resolvi sair mais cedo para apanhar o comboio que demora menos tempo no trajecto Braga-Porto. Estava um calor de fazer assar passarinhos nas árvores (ora aqui está uma tirada ao estilo "livro da Língua Portuguesa-7º ano") e toda a gente se abrigou no comboio (e viva o ar condicionado!), sendo que, quase meia hora antes deste arrancar, já estava totalmente lotado. Sentei-me em frente a duas senhoras já com uma certa idade, que me pediram, com gentileza, que as informasse (através do painel interno de informação do comboio) quando estivéssemos a chegar a Famalicão, porque aquele comboio "ánda muito depréssa e a gente num bê quando passa das estações". Eu disponibilizei-me para o fazer e as senhoras começaram um inquérito á minha pessoa. Lá lhes expliquei que estava a estagiar em Braga, na área da Gestão. A mais "faladeira" disse-me "olhe menina, gente assim com um cursinho e que saiba mesmo trabalhar, é que a gente precisa. Não é como áquele que num é inginheiro ninhum e que nos querem é deitar areia pá cara. É verdade menina! Veija lá que ele diz quié casado mas aquilo já nem é nada. Só a tem lá mas já anda com o outro à frente de toda a gente."
Ora bem, depois lá comentou que o sobrinho monta máquinas nas fábricas da indústria têxtil e que elas as duas trabalharam na área durante muito tempo. Em traços largos "olhe menina, agora fecham estas fábricas todas para ir para a Roménia, lá com os estrangeiros, porque lá uma camisa custa 20euros e eles num tenhem nem 20euros para comer! Mas pagam-lhes poucos e assim rende mais levar tudo para lá. E nós é que ficamos pobres com isto! Não haviam de deixar fazer estas coisas. Desgraçam-nos a todos!". Seguiu-se uma explicação singela de todos os procedimentos minuciosos do fabrico dos tecidos assim como a história de como o filho do antigo patrão que enganou toda a gente, foi para Marrocos e depois perdeu lá todo o seu dinheiro (engaram-no da mesma forma, contam). Curiosamente elas tinham soluções práticas e objectivas para muitos dos problemas. E aposto que a maioria dos nossos gestores não chega a metade desse caminho durante toda uma carreira.
É de valorizar. E muito, vos digo.

A Passageira


P.S.: Dois ingleses vinham também nesse comboio e rejubilaram quando viram vacas a pastar. Se calhar deveriam era ter apanhado o comboio dos pintaínhos.

quinta-feira, 24 de abril de 2008

A caixinha

Quando tiverem dúvidas sobre o facto de estarmos ou não numa mudança de estação (falamos do clima, propriamente dito), podem esclarecê-las em qualquer transporte público. Se cheirar a naftalina, ou estamos a entrar no Inverno ou então no Verão. Tão certo quanto a Terra girar à volta do Sol.
As viagens ao final da tarde, nos comboios de Braga para o Porto, costumam ser bastante aprazíveis. Silêncio, pouca gente e a possibilidade de podermos esticar as pernas, visto não termos que partilhar paridade de lugares com ninguém. Suspeito ter qualquer componente atractiva muito forte pois, com o comboio quase que vazio, chegamos ali a Famalicão e duas respeitáveis senhoras entram e sentam-se, uma ao meu lado e outra á minha frente. Ora bem, ontem começou a vir o calor. Pela lógica da batata, naftalina ao poder. Mas pronto. O cheiro já vinha meio suavizado e aguenta-se razoavelmente bem. Traziam ainda 4 ou 5 sacos que deviam vir do sapateiro, pois cheiravam a verniz. Até aqui, bem... já começa a ser...vá, chatinho. Mas uma pessoa ainda faz o esforço. O cúmulo veio de uma caixa. E perguntam-se vocês "Uma caixa? Mas que raio é que uma caixa pode ter assim de tão incomodativo?"
E eu respondo-vos:

PINTAÍNHOS!!!

Sim, os filhos das galinhas.


Depois disto, o Senhor Murphy devia acrescentar a lei de "não interessa que o comboio vá vazio. Se alguém entrar com uma caixa cheia de pintaínhos nauseabundos, irá sentar-se exactamente ao seu lado".



A Passageira

quarta-feira, 23 de abril de 2008

"Quantas patas tem o gato?1, 2, 3, 4!!!"

De facto,a miudagem de hoje, num sentido generalista, não tem educação.
Não, não tem nada que ver com a mediatização do caso do Carolina. Nada disso.
Visualizem a fantástica jornada que é a viagem de comboio Porto-Braga às 7:40 da matina. Pois bem. Como se já não fosse um suplício mais do que suficiente fazer uma viagem tão longa logo de madrugada, juntem dois putos de 4 ou 5 anos a cantarem:

"Pim Pam Pum
Cada bola mata um!
P'ra galinha e p'ro pirú
Quem se livra és mesmo tu,
Da cabeça do pirú!
Quantas patas tem o gato?
Um, dois, três, quatro!!!"

(Nota: pirú é o aproximado ao perú, penso eu)

Sim. É mau. É chato. Mas mais chato é se o fizerem durante a totalidade da viagem.
Dá vontade de cometer infanticídio. Duplo. E ainda bater no executivo tonhó que vai a falar altíssimo ao telemóvel, no banco ao lado (não nos interessa saber que fechou negócio com o Zé Tó da empresa de tijolos, meu senhor. Aliás, a falar tão alto, penso que o Zé Tó o conseguia ouvir sem ter que se socorrer do telemóvel).
Não me admira que, com isto, a juventude vá ficar surda com o uso abusivo dos leitores de mp3 no volume máximo.


Outro aspecto curioso são os TUB (Transportes Urbanos de Braga). Nos primeiros tempos que frequentei Braga, pensei, muito sinceramente, que os TUB eram uma empresa fictícia. De facto os TUB existiam. Mas eu nunca os via. Agora já entendo. Imaginemos que temos 5 números diferentes (linhas, entenda-se) a fazerem paragem no local X. Ora bem, esses 5 números chegam sensivelmente ao mesmo tempo e só passam de meia em meia hora. Se não chegarem na altura certa à paragem, vão a pé. Vendo por esta perspectiva, os TUB devem pertencer a um qualquer lobbie relacionado com a luta contra a obesidade e o colesterol. Não sei. E penso que ficarei sempre na dúvida.
Outro aspecto das paragens, é que os passageiros não fazem fila. Regra geral, é tudo ao molho e fé em... em quê também não sei, porque até Deus era/é minimamente ordenado.
Anyway, existem sempre umas senhoras com mais idade que lá se metem á frente de toda a gente, mesmo que essa gente já esteja há meia hora à espera, debaixo de chuva torrencial. Mas o que me danou foi uma dita senhora, de muletas, que, num desses dias de chuva torrencial, entrou á frente de toda a gente que já lá estava. Cambaleava lentamente e a muito custo. Mas só até perto do motorista. Mal viu um assento vago, agarrou nas duas muletas e foi para lá, em passo acelerado.
Dava vontade de a trancar num cubículo com os dois catraios acima mencionados até ela ensandecer.

Enfim.

Deve ser um mal originado nas malditas quenturas infernais que se geram nos transportes nestes dias de chuva.

A Passageira.


P.S.: Ao senhor que deixou um sapato perdido na estação de metro dos Aliados, no Porto, na 3a feira em que houve greve, apenas o quero informar de que, às 20:30, o sapato ainda lá estava. Tente a secção dos perdidos e achados.
E deixe lá uma mensagem a explicar como é que um homem perde um sapato de atacadores a entrar no metro ^_^

quarta-feira, 16 de abril de 2008

A Partida

Depois de tanta insistência por parte de diversas pessoas que aturaram vezes sem conta a minha capacidade de falar rapidamente e sem respirar durante vários minutos, sobre os fantásticos episódios diários que vivo nesses ícones da vida moderna que (não) são os transportes públicos, cedi à pressão no universo dos blogs e aqui estou.
Comecemos então hoje esta viagem (e olhem que não sei quando e onde acaba...).


A Passageira